
A modelagem da informação surge como uma evolução para o setor da construção civil na busca de integração dos agentes, potencialmente melhorando o processo de projeto. Inúmeros desafios e dificuldades apresentam-se na transição para os novos sistemas de informação e as empresas de arquitetura brasileiras, em sua maioria de pequeno e médio porte, apresentam algumas particularidades que limitam seu desempenho, tais como: recursos financeiros, humanos e tecnológicos escassos e alta dependência do grau de empreendedorismo e liderança de seus titulares. Por outro lado, as mudanças de processos internos geram impactos no desenvolvimento dos projetos e sua produtividade, na adaptação do fluxo tradicional de projeto e no treinamento, ao mesmo tempo em que exigem maior integração e colaboração, e processos padronizados.

Este artigo analisa a implementação da modelagem da informação da construção e os problemas enfrentados em uma empresa de arquitetura, no primeiro projeto em que foi implementada. São apresentados os resultados parciais do estudo de caso, que farão parte da Dissertação de Mestrado da primeira autora, que demonstraram as dificuldades da empresa pela falta de planejamento estratégico orientado à implementação da modelagem, assim como impactos na gestão da empresa e necessidade de mudanças no processo de projeto.
O setor da construção civil no Brasil há décadas é rotulado como atrasado quando comparado a outros setores industriais, devido à sua baixa produtividade, em função, principalmente, de seu baixo nível de industrialização, elevado desperdício de materiais e reduzida qualificação da mão de obra, o que resulta também na baixa qualidade do seu produto final. Recentemente, o desenvolvimento das tecnologias de informação e comunicação (TICs) apareceu como alternativa para criação de novos processos capazes
de incrementar o desempenho das empresas.

Considera-se que o uso de TICs tem grande potencial para implementar melhorias na produtividade e competitividade do setor da construção (NASCIMENTO E SANTOS, 2001 apud ABAURRE, 2013). No cenário mundial, observa-se o crescimento do uso da Modelagem da Informação da Construção; diversos países vêm investindo em políticas nacionais de incentivo à sua implementação e a mudança tecnológica, em muitos casos, foi iniciada pelo incentivo de políticas públicas, sendo criados guias e normas que norteiam os novos processos (WONG, 2010).

Sob as novas demandas do mercado e o incentivo dos demais agentes da cadeia produtiva as empresas de projeto passaram a reagir a essas demandas de seus contratantes e a planejar métodos de implementação da nova tecnologia. As empresas de projeto de arquitetura, pequenas empresas em sua grande maioria, têm características diferentes quando comparadas a empresas de maior porte principalmente, em relação à sua gestão. A empresa deverá viabilizar a inovação como estratégia de negócio e avaliar o retorno do investimento a curto e longo prazo. O custo elevado na implantação da modelagem é apontada como uma das principais dificuldades. Estes altos investimentos estão relacionados a compra de licenças de softwares e de novos equipamentos e ao treinamento
da equipe (SOUZA,2009).
IMPLEMENTAÇÃO DA MODELAGEM DA INFORMAÇÃO
De acordo com Wong (2010), a modelagem da informação da construção está expandindo sua implementação em vários países. Os autores apresentam uma revisão do processo de implementação em seis diferentes países, demonstrando que as iniciativas de implementação partiram tanto dos setores públicos quanto dos privados, como é o caso de Hong Kong. No período de 2007 a 2009, a maioria dos países estabeleceu iniciativas de determinação de diretrizes para implementação da modelagem da informação da construção que resultaram na produção de guias e manuais. Como demonstra Succar (2009), esses guias foram desenvolvidos na Austrália, Dinamarca, Finlândia, Holanda, Noruega, Estados
Unidos e Europa, demonstrando amadurecimento no uso da modelagem e sua aplicação. No Brasil, de acordo com Souza et al (2013), observa-se desde 2007 um início de movimentação no setor privado para a implementação da modelagem da informação da construção.

De acordo com matéria da Revista Construção Mercado as grandes construtoras e incorporadoras brasileiras iniciaram uma série de projetos-piloto para avaliar a aplicabilidade do BIM, na busca de aumento de produtividade, redução de perdas, diminuição de prazos, melhoria nos orçamentos e melhoria na qualidade do produto imobiliário. (DELATORRE, 2014). Em 2011, de acordo com a revista AU (REIS, 2011), quatro empresas de projeto de arquitetura, de diferentes portes, demonstraram alguns
resultados das suas implementações no período de 2004 a 2007.
Foram relatadas as primeiras experiências, dificuldades, ganhos e algumas recomendações. Pode ser
destacado como ação especifica para as empresas de projeto de arquitetura o “Guia AsBEA de Boas Práticas em BIM”. O fascículo 1 foi lançado em 2013 com instruções sobre o uso de ferramentas digitais nos projetos de arquitetura e toda a cadeia produtiva da construção civil. Este primeiro fascículo aborda as fases conceituais e iniciais de implementação do BIM e os demais fascículos ainda estão em desenvolvimento.

Implementar BIM efetivamente requer significativas mudanças na maneira de trabalhar em quase todos os níveis dentro do processo do empreendimento; não é suficiente apenas o aprendizado de novos softwares; deve haver também a reinvenção do fluxo de trabalho, treinamento da equipe e atribuição de novas responsabilidades (ARAYICY et al, 2011). Além disso a utilização da tecnologia na prática é uma decisão de negócio, pois a rotina de trabalho de uma empresa vai requerer mudanças de processos (JERNIGAN, 2008).
Autores:
Karina Matias Coelho; Tassia Farssura Lima; Silvio Melhado